Sobre a reforma do ensino médio do governo Temer

"Análise para quem quiser entender porque nós, professores, somos contra a reforma do ensino médio da forma como o governo pretende fazer nesse momento. Os argumentos do Professor Daniel Cara são bem fundamentados (mesmo que eu não concorde com alguns deles), diferentemente de boa parte do mimimi contra ou a favor do assunto que a gente está vendo por aí.

Pessoalmente, sou favorável à expansão do ensino técnico no ensino médio (e não acho que essa característica seja, necessariamente, um viés utilitarista na educação, vide os exemplos dos cursos dos IFs e FAETECs em que os alunos, em sua maioria, são bem formados e tenham bastante capacidade de raciocínio crítico). Mas acho no mínimo esquizofrênico o governo determinar a expansão de carga horária, em um momento em que está congelando o teto dos gastos com educação.

Outra questão é que as razões da qualidade ruim de nossa educação têm raízes bem mais profundas que o mero formato dos cursos ou a quantidade excessiva de disciplinas, como:

a) Depreciação da carreira de professor, formação que hoje atrai, na maioria dos casos, os estudantes menos qualificados.

b) As instalações ruins e a pouca variedade de recursos na maior parte das escolas.

c) Currículos mal resolvidos (a proposta do governo coloca o carro adiante dos bois, modificando o formato geral do currículo do EM por decreto, enquanto deixa detalhes muito importantes dessas modificações que permitirão que elas funcionem de fato para as discussões dos novos parâmetros curriculares nacionais definirem).

d) Cultura de desvalorização do papel da educação por nossa sociedade (ao menos parte dela). Falta em muitos brasileiros a consciência da importância de se buscar aprender sempre e de dar o seu melhor em tudo que se faz. A preguiça, o jeitinho e o compadrio para se alcançar objetivos parecem ter mais valor do que os esforços e o trabalho duro. Infelizmente, nossos políticos dão abundantes exemplos nesse sentido."