Sobre o julgamento das mulheres vítimas de estupro.


"Ela implorou para que parassem. O apelo da jovem de 16 anos estuprada no Morro da Barão, na Praça Seca, estava registrado no celular de Raí de Souza, jovem de 22 anos que gravou a violência ocorrida nos últimos dias 21 e 22. Estuprada duas vezes, na segunda, ela ainda foi humilhada por um dos criminosos com xingamentos.
X. foi estuprada às 7h de sábado, após sair de baile funk, e no domingo, às 19h. Foram 36 horas que ela passou na mão de criminosos. Além do vídeo que já havia sido publicado, uma outra gravação feita, juntamente com outros dois traficantes, mostra as cenas e os algozes introduzindo, inclusive, objetos nas partes íntimas da menina desacordada."
Fonte: http://extra.globo.com/casos-de-policia/video-no-celular-de-rai-mostra-que-implorou-para-nao-ser-estuprada-19448150.html#ixzz4Ap0GZzIX

Agora que encontraram OUTRO vídeo que mostra a resistência da moça, ficará muito difícil continuarem negando.
Mas fico só imaginando como deve ser difícil para qualquer vítima de estupro em geral denunciar e obter justiça. Nesse caso, por exemplo, houve muitos julgamentos morais apressados e equivocados sobre a atitude da adolescente diante dos estupradores, por ela ter um perfil de vida desregrada, mesmo o crime tendo sido FILMADO!
E sabemos que algumas pessoas, mesmo depois de saberem da existência desse segundo vídeo não mudarão seus pontos de vista e continuarão a julgá-la a principal responsável pelo que aconteceu ao invés de condenarem os verdadeiros culpados: os estupradores.
A esse respeito, penso que sobre a triste vida autodestrutiva que ela levava, também há responsáveis além dela própria, principalmente sua família, como comentei logo após o crime. Mas nada disso pode servir de pretexto para aliviar a culpa dos estupradores.
Pensemos que mesmo em situações em que as vítimas não se encontrem tão vulneráveis a julgamentos morais, este é o primeiro temor de quem pensa em denunciar: em nossa sociedade machista, quando se trata de estupro julga-se a vítima antes de seus algozes!
" O que ela estava fazendo num lugar desses?"
"Por que ela estava com uma roupa tão curta?"
"Também, estava pedindo..."
E muito provavelmente haverá também outros obstáculos para as vítimas de estupros, além do constrangimento do próprio contexto: a possível presença de policiais misóginos e pouco empenhados em investigar, como nesse caso houve inicialmente, o atendimento médico deficiente após o fato e perícias criminais precárias pela desestrutura geral do serviço público.
Some-se a isso tudo a justiça morosa de nosso país e o resultado final mais provável será a impunidade dos criminosos, com maior sofrimento ainda para a vítima, que gostaria apenas de poder se esquecer de tudo, mas nunca conseguirá, pois nunca se esquece algo assim. No máximo se supera.
Diante desse cenário, a conclusão é que falta muito para caminhamos, mas esperamos ao menos que a hipocrisia dos julgamentos morais das mulheres vítimas comece a cair por terra...

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